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sexta-feira, 24 de maio de 2013
Amor de várias cores
Fabiane Post Ploposki, 40 anos, é casada com Roberto Jorge Ploposki de 50 anos. Os dois são pais de Sofia, 6 anos, Maitê, 7 anos, e Roberto Filho, de 1 ano e 2 meses.
Eu nunca quis ter filhos biológicos, e quando comecei a namorar o meu marido ele já tinha um filho do primeiro casamento. Sempre que pensava em começar uma família, imaginava que seria através da adoção. Namoramos durante pouco mais de 1 ano e nos casamos. Logo depois disso o convenci a fazer vasectomia, pois realmente não tinha pretensão de engravidar.
Aos 30 anos, cerca de oito anos depois do meu marido realizar a vasectomia, fui fazer meus exames de rotina e descobri que tinha câncer de colo de útero. O médico me deu como única opção a retirada de útero para que a doença não se espalhasse, mas me perguntou, apesar do risco, se eu gostaria de engravidar através de inseminação artificial antes da cirurgia. A doença foi o sinal de que estava na hora de colocar em prática o meu sonho da adoção.
Resolvi fazer a retirada do útero e não engravidar. Minha família toda ficou muito arrasada, pois eu era a única de uma família de seis irmãos que ainda não havia tido filhos. Por mais que eu dissesse que não queria filhos biológicos, eles mantinham a esperança de que eu mudasse de ideia.
Entrei na fila da adoção e, como eu era inexperiente no assunto, coloquei como pré-requisito uma criança de até dois anos. Quando percebi que a demora estava sendo grande, aumentei a faixa etária para até cinco anos. Jamais restringi a cor da pele. Depois de dois anos e meio na fila da adoção, marcamos uma audiência para entender o motivo da demora. Foi quando descobrimos que o juiz da vara da infância e juventude da Comarca de Curitiba não permitia que crianças negras fossem adotadas por casais brancos, como eu e meu marido. Ficamos estarrecidos. Ele nos explicou que essa decisão era para evitar constrangimentos na educação das crianças.
Depois de dois anos e oito meses conseguimos adotar no município de Almirante Tamandaré, próximo à Curitiba. A assistente social nos informou que éramos a vigésima família com a qual entravam em contato, pois ninguém aceitou o fato de se tratar de uma criança negra. Perguntaram: ‘Serve pra você essa criança negra?’ Eu disse na hora que não era necessário ter falado a cor da criança e então fomos pegar a Sophia que tinha 1 ano e três meses.
Achamos que ficaríamos apenas com ela, mas depois de quase um ano nos ligaram novamente. Fomos informados que a mãe biológica da minha filha tinha sido denunciada por maus tratos aos outros filhos e que mais três irmãos estavam disponíveis para adoção. Disseram que havia um casal interessado em adotar apenas duas crianças e me perguntaram se eu aceitava adotar um deles para que todos saíssem do orfanato. Aceitei e adotei a Maitê, que tinha três anos e meio. Os outros dois ficaram com outro casal de Curitiba com quem mantemos uma relação próxima para que todos os irmãos possam ter contato sempre que quiserem.
Passados alguns anos da adoção da Maitê recebi outra ligação. Desta vez me falaram sobre um menino de nove meses, também irmão biológico das minhas meninas, que acabara de chegar à vara da infância e juventude. Como eu e meu marido estávamos achando pequena uma família com duas filhas apenas, decidimos adotar mais um. Foi então que o Roberto Filho veio para nós.
Como vivemos em uma cidade que possui muita gente branca e loira, às vezes percebemos um certo preconceito por conta da cor da pele das crianças. Já fui abordada por pessoas perguntando se eles eram filhos da minha empregada e há certa surpresa quando digo que são meus.
Somos uma família abençoada e feliz. As pessoas me acham louca e dizem que eu sou ‘corajosa’ por ter adotado meus três filhos, mas não é nada disso. Eles me dão alegria de viver e deram sentido à minha vida.
Depoimento apresentado na reportagem Diversas formas de ser mãe: Conheça histórias de mulheres que reinventaram o conceito de família, na Lifestyle
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