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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ser mãe por adoção

Hoje é Dia Nacional da Adoção. E, quando eu paro um pouco o trabalho que estou fazendo para escrever sobre minha experiência como mãe, a primeira coisa que me lembro que é que, quando eu estava na graduação, já lá pela metade do curso e morando com o Cris no nosso quarto-sala do Pantanal, num dos finais de semana que ia pra casa e ver minha mãe, eu e ela conversamos sobre as dificuldades de se tornar gente e o papel ultra-mega-importante e angustiante que os pais tem nesse processo. Nessa conversa, lembro-me como se fosse hoje, eu disse pra ela "Mãe, eu não tô pronta pra ter filhos. Se eu tivesse algum filho agora, eu ia ser uma mãe terrível". (Eu tinha 22 anos).

E por que essa lembrança seria tão relevante? Justamente por que quando chega o momento em que eu e o Cris nos sentimos prontos para dividir o que sabemos e o que sentimos com outras pessoas, contribuindo para a formação destas, chega à minha casa lindas, maravilhosas, afetuosas, impetuosas e decididas crianças. O mais novo, Beto, tinha acabado de fazer seis anos de idade. A mais velha, Jaque, já tinha sete. Fez oito naquele mesmo ano. Eu tinha 30...

Desde que chegaram à minha casa, não fui mais a mesma. Minha vida virou uma montanha russa, pelo menos nos primeiros meses. Precisei abrir mão de algumas exigências e me agarrei com mais força às causas sociais e humanitárias. Quase enlouqueci mais do que um par de vezes, mas não consigo mais pensar na minha existência sem el@s por perto. Quando preciso ficar sozinha na casa e, por uma razão ou outra, dar uma pausa no que estou fazendo, me pego perdida e falando sozinha. Quando as crianças vão passar o fim de semana com a Dulce, companheira que encontramos nesse desafio, eu e o Cris olhamos um para o outro e nos perguntamos: "E agora?". Não sei mais ser Carine sem a Jaque e sem o Beto. Meus filhos são as luzes que "que ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida". São respectivamente, a Tulipa que colore e perfuma os meus dias e o Bombom que adoça as amarguras do cotidiano. São minha família.

Constituir uma família adotiva é algo bem angustiante e ambíguo: El@s já são parte de mim, como se nunca tivessem sido "fora". Sou feliz com el@s como jamais pensei que seria. No entanto, a história que fez com que nossos caminhos se cruzassem é cheia de dor e violência e ninguém, absolutamente NINGUÉM merece passar pelo que el@s e outras crianças passam para que estejam disponíveis para outras famílias. Será que entendem o paradoxo que me aperta todos os dias? Eu sinto muito, mesmo, por tudo o que eles passaram antes de nos encontrar e desejo que eles nunca precisassem passar por isso, mas... se não fosse assim, eu jamais os conheceria e saberia a dor e alegria de ser a sua mãe...

Mas não me vitimizo por isso, não... Sou feliz, apesar dessa dor. Sei que el@s também são, apesar dos enroscos ocasionais. Escolhi meus caminhos profissionais para fazer do mundo um lugar melhor, para que eles possam continuar felizes e também fazer a sua parte. No entanto, eu não poderia deixar essa data passar sem deixar registrada a minha experiência. E, enquanto os nossos modos de viver ainda permitem que crianças sejam afastadas de suas famílias, por falta de medidas e serviços adequados, venha fazer parte deste clube com a gente. Ser mãe pela adoção pode ser tão mágico e gratificante quanto pelo sangue.

Se essa experiência fizer parte do seu projeto. ;)

Depoimento de Carine Suder Fernandes, casada com Cristiano Carneiro, pais de Jaque e Beto.


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